A administração norte-americana indicou a Argentina e a Romênia como países prioritários em sua comunicação oficial ao secretariado da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
Quando o Brasil encaminhou o seu pedido de acessão à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ainda no governo do presidente Michel Temer, a avaliação que se fazia era que o processo seria longo e complexo. Havia consenso no governo e entre outros atores do setor privado que se tratava de um passo importante para o aperfeiçoamento das políticas públicas e para criar ambiente mais próspero aos negócios, aos investimentos e ao aumento da competitividade da economia e do sistema produtivo nacional.
No governo Bolsonaro, a expectativa ganhou contornos de euforia. Durante a visita do Presidente a Washington, o líder americano expressou a sua intenção de apoiar a postulação brasileira de acessão à OCDE. Dava-se como certo que o Brasil havia sido alçado ao patamar de parceiro estratégico e, nesse sentido, passaria a ocupar posição de destaque na lista de prioridades da Casa Branca. Ledo engano, ao menos por ora.
Na semana passada, o Secretário-Geral da OCDE, José Angel Gurría , solicitou aos países membros a indicação de dois países preferenciais para futuras adesões. Apesar da promessa feita ao presidente brasileiro, a administração Trump indicou a Argentina e a Romênia como países prioritários em sua comunicação oficial ao secretariado da OCDE.
Como observador, é possível derivar algumas conclusões desse processo. Primeiro, o suposto “alinhamento” da administração Bolsonaro aos EUA ainda não é decodificado, em Washington, como esforço suficiente para o Brasil substituir nem mesmo a Argentina no hall de prioridades do governo Trump. O Brasil segue sendo visto como um concorrente econômico-comercial e, em algumas searas, como competidor direto dos EUA.
Esse episódio demonstra que o presidente americano ainda não se sentiu seduzido por Bolsonaro e por seu núcleo ideológico seja na prática ou na retórica – apesar de todas as juras e concessões já feitos até aqui. Os mais afoitos, em seu afã de agradar Trump, dirão que é preciso paciência e que os ganhos virão, inclusive por meio de um incerto acordo de livre comércio que, ao que tudo indica, a administração norte-americana não vê como alternativa de curto prazo. Sabe-se que o ímpeto livre cambista não é bem o que caracteriza os responsáveis pela política comercial dos Estados Unidos.