Prefeitos acusaram mais uma pessoa de intermediar a liberação dinheiro do Ministério da Educação.
O prefeito de Boa Esperança do Sul, em São Paulo, é um dos que citaram o nome de Nely Carneiro da Veiga Jardim. Ela não é funcionária do MEC, mas participava de reuniões com o ministro Milton Ribeiro. Segundo relatos, falava em nome do ministério.
José Manoel de Souza contou que esteve em uma reunião de prefeitos com Milton Ribeiro, em março de 2021. Disse que os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura convidaram alguns prefeitos para almoçar e que Nely estava presente.
Os dois pastores, sem cargo no MEC, são suspeitos de comandar um gabinete paralelo para liberar verbas no ministério. Segundo José Manoel, foi no restaurante de um hotel em Brasília que o pastor Arilton lhe pediu R$ 40 mil em troca de recursos do ministério. O caso foi revelado pelo jornal “O Globo” e, nesta quinta-feira (24), a TV Globo falou com o prefeito.
“Ele falou: ‘Olha, prefeito, eu vou ser bem direto com você’. Ele falou: ‘Eu consigo fazer um papel, um ofício agora, eu te libero a escola profissionalizante’. Ele falou: ‘Mas, em contrapartida, você precisa depositar R$ 40 mil na conta da Igreja Evangélica’. Aí eu levantei, bati no ombro dele e falei: ‘Muito obrigado, pastor. Mas, para mim, dessa forma não serve’”, afirma José Manoel de Souza, do PP, prefeito de Boa Esperança do Sul.
O prefeito afirma que poderia ter fechado a negociação ali mesmo. “Desde a primeira reunião que eu fui no Ministério da Educação, e na segunda reunião, estavam os dois, tanto o Arilton quanto o Gilmar. E também junto, nesse restaurante, que conversava, articulava com alguns prefeitos, estava a Nely, que estava junto com ele. Quando eu estava conversando com ele na mesa, ele falou: ‘Se você quiser, eu já chamo a Nely. Ela já faz o ofício e hoje mesmo eu libero para você a escola profissionalizante’”, conta.
Em pelo menos duas agendas do MEC, Nely aparece como representante da Igreja Cristo para Todos. Mas, na época, ela ocupava um cargo na liderança do MDB na Câmara. O pastor Arilton chegou a ser indicado para a função, mas foi substituído por Nely, que ficou até abril do ano passado. Os dois foram apresentados como tendo bom trânsito na bancada evangélica para resolver questões de orçamento.
Nely também se ofereceu para intermediar a liberação de verbas em um outro caso, o de um prefeito do interior de Goiás. Ele pediu para não ser identificado por medo de represália, mas contou à TV Globo que esteve no MEC em março de 2021, a convite de Nely, com outros prefeitos, e que, nesse dia, ela ofereceu um contrato de assessoria que ele recusou.
Segundo o prefeito, Nely continuou insistindo por telefone, como mostra uma mensagem que o prefeito enviou à reportagem.
“Estamos com orçamento do MEC e Saúde, e queremos em troca uns votos para o nosso deputado estadual da igreja. Interessa?”, questiona Nely.
O prefeito respondeu que sim e perguntou quem seria o candidato. Nely, então, disse que ele “é novo” e o orientou a entrar em contato com o pastor Arilton, e passou o telefone do pastor.
O produtor do Jornal Nacional Wellington Hanna ligou para Nely. Ela negou a denúncia.
“Não, eu não tenho nada a declarar, está bem? Eu não tenho nada com isso. O que está aí é o que eu estou vendo, tá?”, disse Nely, antes de encerrar a ligação.
Era por telefone que Nely costumava atuar, como no caso do prefeito Kelton Pinheiro, de Bonfinópolis, Goiás.
“Ela me ligou se dizendo funcionária do ministério, o nome dela sendo Nely. E onde elas precisavam dos nossos dados para colocar na lista do Ministério premium para ter a entrada lá na reunião”, revela.
Kelton também participou da reunião em março. Depois, almoçou com os pastores e disse que Arilton pediu propina. “’Olha, prefeito. Eu vou direto com você. Papo reto. Eu tenho recurso para liberar o seu pedido lá da escola, de R$ 7 milhões, mas eu preciso de R$ 15 mil hoje na minha mão. Isso porque você está com o pastor Gilmar, para apresentar para o pastor Gilmar. Para os outros, eu cobrei mais caro’. Aquilo me deixou em uma situação muito constrangedora”, relembra.
Fonte: G1