“Ele foi diagnosticado quando tinha 2 anos de idade. Naquela época, nós não sabíamos o que era autismo, não sabíamos nada”. A fala é de Marli Comochina, aluna egressa do curso de Pedagogia da Uninter em Rio Negro, município localizado no sudeste do estado do Paraná.
Há 10 anos, quando seu filho, Murilo, foi diagnosticado autista, ela iniciou sua caminhada nos estudos sobre recursos didáticos e a educação de crianças e jovens com autismo. “Eu já era professora, porém não tinha o conhecimento adequado sobre a condição que seu filho portava”, conta.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA), ou somente autismo, é uma condição de saúde caracterizada por déficit na comunicação social e no comportamento. São muitos os subtipos do transtorno, desde pessoas com condições graves ligadas à deficiência intelectual, até pessoas com condições mais leves, que não sabem que são autistas por conviverem naturalmente com alguns sintomas.
No caso de Murilo, as primeiras suspeitas vieram pelas observações de professoras que trabalhavam na creche que o menino frequentava. O alerta levou Marli a procurar um especialista na área de neuropediatria para obter um diagnóstico. Desde então, ela vem se dedicando dia após dia a auxiliar seu filho no processo de aprendizagem e desenvolvimento.
O diagnóstico
Em uma das consultas corriqueiras com a fonoaudióloga, Marli recebeu uma atividade para realizar com Murilo, com o intuito de aprimorar a linguagem por meio do aprendizado das sílabas. A atividade realizada no computador, junto com Murilo, levou-a a descobrir mais sobre o processo facilitador dele: a imagem.
Ao perceber que o aspecto visual auxiliava Murilo a fazer as atividades, ela passou a se dedicar à transformação das atividades de aprendizagem do filho em algo mais visual, para que ele pudesse ter melhor compreensão e desenvolvimento. Durante todo o processo, Marli foi criando diferentes matérias que auxiliam o aprendizado de pessoas com condições similares ao de seu filho.
“A cada fase escolar que ele ingressava, eu adaptava um jogo para auxiliar na aquisição do conhecimento”, explica.
É importante a intervenção precoce em casos como o de Murilo, para que seja possível reverter o quadro e possibilitar um bom desenvolvimento ao indivíduo. “Para o Murilo estar no estágio atual, foram muitas renúncias e muita dedicação da família e das pessoas próximas. Eu sempre fui uma pessoa muito metódica em relação a isso”, conta ela sobre o filho que hoje tem 12 anos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que atualmente cerca de 1% da população mundial esteja dentro do espectro do autismo, a maioria sem diagnóstico. Alguns sinais do transtorno podem aparecer a partir do primeiro ano de vida do indivíduo ou até mesmo antes, em casos mais graves. Sintomas como irritabilidade, agitação, autoagressividade, hiperatividade, impulsividade, desatenção e insônia são típicos do transtorno.
Quebrando barreiras
Atualmente, Marli se dedica a atuar no Atendimento Educacional Especializado (AEE), possibilitando que inúmeras crianças tenham o acesso a recursos diferenciados e elaborados especificamente para eles. A iniciativa também promove o acesso a ambientes adaptados para auxiliar os alunos. Nesse local, o professor é capacitado, tendo como objetivo preparar o aluno para desenvolver habilidades e utilizar instrumentos de apoio que facilitem o aprendizado.
Marli utiliza seus próprios materiais de língua portuguesa e matemática básica durante as aulas no AEE, expandindo o acesso ao aprendizado. A produção dos materiais e jogos educativos é feito com recursos próprios, sem qualquer ajuda financeira externa.
Uninter e inclusão
Por iniciativa do polo da Uninter de Rio Negro, Marli foi convidada para apresentar seu trabalho em um workshop. Sua apresentação marcou o dia do autista e fez com que ela ficasse conhecida entre as pessoas da cidade.
“Sou testemunha e apoiadora deste trabalho incrível que deve ultrapassar barreiras e ser socializado em todos os cantos do país”, diz Gicele Wormsbecher, gestora do polo.
Entre seus objetivos, Marli tem a vontade de quebrar o paradigma de que essas crianças e jovens autistas são incapazes de aprender e formar um programa de ensino auxiliar curricular, levando seu trabalho para o mestrado.
“Eu acredito que todas as crianças, com ou sem o transtorno, podem aprender, mesmo de maneiras diferentes. Espero que no futuro mais pessoas abracem essa causa e a gente possa transformar isso em um grande projeto”, finaliza.
Autor: Leonardo Túlio Rodrigues – Estagiário de Jornalismo
Edição: Arthur Salles – Assistente de Comunicação Acadêmica
Créditos do Fotógrafo: Acervo pessoal
